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PAULA NO CANADÁ 

Dicas de turismo e intercâmbio

Foto do escritorPaula Buzzo

Panorama Ridge: a trilha mais linda de British Columbia

A primeira vez que eu vi uma foto de Panorama Ridge eu não fazia ideia de como chegar naquele local, mas sabia que precisava ir até lá. O lago de cor azul intensa cercado por montanhas cobertas de neve, parecia uma paisagem de filme, um conto de fadas. Como poderia aquele lugar ser real?


Alguns dos lagos mais famosos do Canadá, como Lake Louise na província de Alberta, você consegue acessar de maneira bem tranquila, de carro, estacionar próximo ao lago. Mas essa aventura seria bem diferente...



O lago em questão se chama Garibaldi Lake, e a trilha até esse ponto da foto é considerada de nível avançada. Não tem "maneira fácil" de chegar até lá, apenas caminhando por horas e horas floresta a dentro e montanha acima.


Foi um dia inteiro de trilha e sem sobra de dúvidas a aventura mais difícil e incrível da minha vida. Mas vamos aos detalhes...


INFORMAÇÕES DA TRILHA


🏔️ Dificuldade: Difícil

Tempo: 11 horas

👟 Ida e volta: 30km

🚩 Ganho de elevação: 1520 metros

☀️ Temporada: Julho - Outubro

🚘 De Vancouver: 1 hora e 30 minutos

🐶 Dog friendly? Não


Acho importante dizer que eu não tenho quase nenhuma experiência com trilhas longas e também um condicionamento físico relativamente baixo. Já fiz diversas trilhas na região de Vancouver, mas com certeza nenhuma delas exigiu tanto de mim quanto Panorama.


É importante falar que a trilha foi bem difícil para mim, porém possível. Porém eu jamais recomendaria para quem não tem experiência nenhuma com trilhas e não está acostumado a fazer exercícios físicos. O terreno em si não é difícil nem muito técnico, mas ela é MUITO longa com bastante elevação, exige sim algum nível de preparo - tanto psicológico quanto físico.


COMO CHEGAR


Saindo de Vancouver você vai dirigir cerca de 1 hora e meia até o começo da trilha, chamado Rubble Creek. Durante o verão você precisa de uma reserva (Day Pass) para acessar o estacionamento e fazer a trilha e o estacionamento LOTA bem cedo. As reservas precisam ser feitas pelo site do BC Parks. Procure pela opção Rubble Creek (Garibaldi Lake).


Chegamos por lá relativamente tarde, 9:30 da manhã. Muitas pessoas se preparam para chegar bem cedinho, até mesmo antes do nascer do sol, para ter tempo suficiente de fazer a trilha com calma e não voltar no escuro. O tempo total de trilha é de cerca de 10 horas mas depende muito do seu condicionamento físico e de quanto tempo você pretende ficar no topo e qual caminho deseja fazer.


O QUE LEVAR


Muita água, principalmente nos dias quentes de verão. A maior parte da trilha é "a céu aberto" sem árvores para cobrir do sol. Levamos cerca de dois litros de água por pessoa e não foi suficiente, recomendo levar até mais.


No verão (Julho a Setembro) leve repelente, muito repelente. Tem diversos tipos de mosquitos e pernilongos ao longo da trilha. Comida suficiente para o dia todo, alimentos que saciem a fome com proteína, barrinhas, snacks.


Eu também levei remédio para dor, pois sabia que minhas pernas iriam doer - e realmente foi uma boa ideia. Hiking poles podem ser uma boa ajuda para a descida. Boné, muito protetor solar.


Nem preciso falar que o calçado mais confortável e próprio para trilhas que você tiver e roupas confortáveis, certo? E mesmo no verão, leve algum tipo de camada para o frio lá em cima. No dia que fomos estava super quente mas no topo da trilha o vento estava cortando de tanto frio.


Lá não tem sinal de internet! Faça o download do mapa da trilha por algum aplicativo como AllTrails anteriormente. A trilha é super bem demarcada e sinalizada, mas é bom evitar problemas levando celular carregado com o mapa salvo offline.


Leve papel higiênico e lenços umedecidos também.



ESTUDE A TRILHA


Existem algumas opções de caminhos que você pode fazer dependendo se você quiser ir até o lago ou não. Nós optamos por não ir até o lago pois isso adicionaria alguns kms a mais de trilha e o foco era ver o lado de cima, no Panorama Ridge mesmo. É possível acampar "no meio" do caminho para quebrar a trilha em dois dias e é uma boa ideia também, tudo depende da experiência que você prefere.


Optamos por ir e voltar no mesmo dia, mas numa próxima oportunidade eu gostaria de acampar em Taylor Meadows. Lembrando que o camping também precisa ser reservado com antecedência no site do BC Parks.


A TRILHA


Para mim a trilha foi dividida em 3 "partes" principais. Os primeiros mais ou menos 6km são de ganho de elevação por dentro de uma floresta fechada com bastante sombra e os terríveis "zig zags" entre as árvores. Não é um ganho de elevação repentino, mas é continuo. Praticamente não tem momentos de descanso, são 6kms montanha acima e as minhas pernas com cerca de 3km de trilha já começaram a tremer, hahaha. Lembrando que são 30km no total (ida e volta). 😅


Ao chegar quase no final dessa primeira parte da trilha você vai ter a oportunidade de escolher qual caminho deseja seguir, o caminho até o lago (Garibaldi Lake) ou direto para Panorama Ridge. Nós escolhemos pular o lago, então seguimos as placas em direção a Taylor Meadows.



A segunda parte são os "meadows", uma parte bem longa de caminhada com vários momentos sem muito ganho de elevação, mas já no meio de um vale sem grandes oportunidades para se esconder do sol. No começo dessa parte da trilha você vai passar pelo acampamento e ali tem um banheiro e algumas estruturas como uma cabaninha. O banheiro é terrível, não recomendo.


O vale pelo qual você vai caminhando é um dos lugares mais lindos que eu já vi na vida. Algumas partes tem até um caminho de madeira que facilita bastante a trilha. Como comentei, o terreno em si não é muito difícil e técnico pela grande maioria da trilha.


Ao longo de vale tem momentos com mais elevação, outros com menos, alguns que você consegue até ver um pouco do lago Garibaldi ao fundo, alguns pequenos "rios" e muitas flores coloridas. Que paisagem de tirar o fôlego!



Depois de muito e muito caminhar em baixo do sol, confesso que fui ficando cansada. Mas ainda o pior estava por vir... Ao chegar nesse ponto aqui da trilha já era cerca de 2:30 da tarde, lembrando que começamos antes da 10 da manhã:



Cruzamos com um grupo que estava voltando do topo e eu acreditava que estávamos perto, perguntamos para eles e o moço respondeu "sim, falta mais ou menos duas horas, subindo por aquele caminho ali" e apontou em direção a montanha que ainda teríamos que subir.


Depois de andar por muitas e muitas horas, ainda tinha mais DUAS HORAS. Nesse momento confesso que eu quis chorar um pouco, hahaha. O desespero de já estar morrendo de dor e ainda ter que subir mais duas horas sabendo que ainda precisaria voltar o caminho todo.


Ta vendo essa montanha atrás de mim na foto, com um pouco de neve no topo? Sim, a trilha é por ali.



Essa foi a parte mais difícil de toda pois você começa a subir por muitas pedras soltas, que chamamos de "scramble". A vegetação vai sumindo, a trilha vai sumindo e o caminho vai ficando mais e mais difícil, com bastante elevação e muitas soltas. É preciso bastante cuidado.


Nesse ponto, não existe mais demarcação de trilha. A subida pelas pedras parece não ter fim. Eu vi pessoas desistindo nesse ponto e vi uma menina passando mal. Aqui o desafio é tanto físico quanto psicológico. Foi o único momento da trilha que eu tive medo, pois as pedras soltas na beira do penhasco foram um desafio e tanto para mim, que tenho medo de altura.


Dependendo da época do ano que você for, essa parte vai estar coberta de neve e ainda mais escorregadia e perigosa.



O moço que falou que ainda faltavam duas horas não estava mentindo, infelizmente. Foram de fato mais cerca de duas horas até o topo de Panorama Ridge. Chegamos por lá 4:10 da tarde.


Esse é o momento que você esquece da dor nas pernas, das picadas de mosquito, da fome, do suor, do pé cheio de bolhas.


Esse é o momento que faz tudo valer a pena. Que você se sente pequenininho nesse mundo tão surrealmente maravilhoso. Que a grandiosidade da natureza te deixa sem palavras. Que você olha pra trás e vê um pedaço do caminho percorrido, a trilha que ficou pra trás vista de cima beeem pequenininha quase somo na floresta. Esse é o momento que você sente muito orgulho de não ter desistido, de ter superado os medos e a dor.


Esse é o momento que você se sente imensamente grato por poder ter saúde para viver o privilégio de ver isso aqui seus próprios olhos:



Eu achava esse lugar incrivelmente bonito por foto, mas não fazia ideia de que poderia tão mais grandioso e encantador ao vivo. ❤️


Que privilégio.

Como é bom estar viva! Como é incrível poder compartilhar aventuras desse tipo com alguém que você ama, que te apoia nas suas ideias mais malucas e não te deixa desistir. Eu não teria conseguido sem ele. Ele me motivou em todos os momentos, não me deixou esquecer que esse desafio era importante para mim. Que era algo que eu sonhei e desejei muito.



Panorama Ridge foi a aventura mais difícil e mais recompensadora da minha vida.

Lá no topo comemos nosso lanche do Subway, tomamos a cerveja que levamos (hehehe) e apreciamos a vista absurda do lago Garibaldi. O azul dele é totalmente diferente de Lake Louise ou Moraine Lake. É um azul mais forte, impossível descrever sem ver a olho nu, as fotos não representam totalmente o que é esse lugar.


Porém, o frio lá em cima estava muito forte, então não conseguimos ficar muito tempo por lá, era aproximadamente 5 da tarde quando começamos a descida de volta para o estacionamento.



A descida pelo caminho das pedras soltas foi bem complicada e assustadora, mas deu tudo certo. Recomendo que vá com muita calma, eu escorreguei diversas vezes, nada grave mas todo cuidado é pouco nessas situações. Você ainda precisa estar bem para fazer todo o caminho de volta.


Existia a opção de fazermos o desvio até o lago na volta, mas isso adicionaria cerca de 5km a mais no trajeto todo e sinceramente, eu não tinha mais condições. Para quem tem mais preparo físico é possível, mas no meu caso eu já estava indo muito além do que eu deveria estar me arriscando a fazer sem ter experiência nenhuma com trilhas longas.


A volta é sempre mais rápida e decidimos seguir o mais rápido possível pois não queríamos que ficasse escuro no meio da volta. O caminho de descida pela primeira etapa da trilha foi interminável, aquela da floresta, sabe? Já estava praticamente escuro e não acabava NUNCA. Era descida, zig zag, descida, zig zag, descida... as penas doendo, os pés num estado que eu nem sentia mais. E mais descida, mais zig zag...


A exaustão era tanta que descemos boa parte correndo, pois eu não sentia mais nada mesmo, então correr foi um instinto, sei lá de onde que veio a força.


Ver de longe dentre as árvores os vestígios de carros no estacionamento foi o segundo momento mais feliz do dia, haha. O primeiro foi ver o lago. Mas ver o estacionamento na volta foi tão bom quanto. 😂


Chegamos de volta ao carro 8:50 da noite.


O meu estado era esse aqui:



Acabada, cansada, suja, hahaha. Mas muito feliz.

Muito orgulhosa de mim mesma.


E muito grata de poder chamar esse lugar tão lindo de lar. ❤️


Espero que esse post possa de alguma forma te motivar a fazer essa trilha um dia.


Um beijo,

Paula Buzzo



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